Projeto debate o futuro da moda com borracha na Amazônia
Aliando arte, ancestralidade e sustentabilidade, e lançado no Dia do Meio Ambiente com exposição e bate-papos, “O futuro é coletivo” versa sobre a premiada parceria entre a marca de biojoias Da Tribu e comunidades ribeirinhas
Da seiva da Amazônia profunda, a matéria-prima da qual são forjados colares, brincos, anéis e uma varidade infinda de objetos criativos em uma parceria que conecta comunidades ribeirinhas ao mercado do estilo. O encontro entre a marca de biojoias Da Tribu e famílias extrativistas abre caminho para se pensar uma nova possibilidade de fazer moda, tendo como ponto de partida o saber ancestral, a responsabilidade socioambiental e o respeito aos territórios. Essa trajetória é contada no projeto “O futuro é coletivo”, que lança no próximo sábado (5), Dia do Meio Ambiente, uma exposição virtual e inicia uma série de encontros para debater moda e sustentabilidade.
A história da comunidade Pedra Branca, da ilha de Cotijuba, em Belém, é o fio condutor do projeto. Além de fotografias de João Urubu , Kleyton Silva e Luiza Chedieck, a mostra traz vídeos e textos que contam, em três alas de exposição montadas em ambiente 3D criado pelo artista visual Lucas Mariano, a história de um grupo de mulheres e suas famílias, que tiram da floresta seu sustento a partir do seringal. Com o látex, são produzidos os fios emborrachados e o TEA (tecidos sustentáveis da Amazônia), materiais usados para a criação das joias orgânicas.
O processo de feitura dos fios e tecidos é desenvolvido no seu território de origem. Pedra Branca fica localizada em uma Área de Proteção Ambiental (APA), abraçada pela Baía de Guajará e pela Baía do Marajó. Cotijuba é a terceira maior ilha do entorno da capital do Pará. A extração de borracha faz parte da história do local desde a década de 1960. Com a desvalorização da matéria-prima no mercado mundial e a crise dos anos 1980, a demanda pelo látex se esvaziou, e os seringueiros precisaram atuar em outras frentes, como a pesca, transporte de passageiros e atividades turísticas na região.
Mas uma nova era se inicia, e resgata saberes ancestrais para apontar para o futuro. O ciclo da borracha, antes predominantemente masculino, ganha outros rumos pelas mãos das mulheres da comunidade, sob coordenação de Corina Magno, filha mais jovem de Manoel Magno, líder comunitário de 75 anos, que há cinco décadas se dedica à extração do látex, tradição que já alcança a 3ª geração da sua família.
“O novo ciclo da borracha é feminino, caracterizado pelo protagonismo dessas mulheres e jovens da comunidade, pela consciência de que vivem em um mundo global, entendendo o passado para construir a narrativa do futuro, de preservação dos recursos naturais, enxergando-se como parte da construção de um novo mundo”, diz Kátia Fagundes, artesã e fundadora da Da Tribu, que orienta a parceria junto às mulheres da Pedra Branca, ao lado da filha Tainah Fagundes, diretora de criação da marca.
Por meio dessa produção familiar, os fios se tornaram a principal atividade econômica para cerca de 30 pessoas da comunidade envolvidas na iniciativa. “Hoje, a seringa é responsável por 95% da nossa renda, nos dá dignidade. É um trabalho que começa nas primeiras luzes da manhã, quando meu pai e meus sobrinhos entram na mata pra extrair o látex. E para nós, mulheres, trouxe independência financeira, a oportunidade de acreditar que somos capazes de nos sustentar”, relata Corina.
Premiado pelo Edital de Credenciamento Aldir Blanc do Sesc Pará, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado (Secult-PA), “O futuro é coletivo” celebra a construção de relações mais justas e éticas no mercado da moda. “A gente acredita que é possível uma relação direta, humana, de uma cadeia horizontal. Queremos mostrar que existem populações dedicadas a esse processo, que é um conhecimento ancestral indígena. Hoje, essas comunidades são guardiãs da floresta, desses saberes, dentro dessa valorização do conceito da floresta em pé”, diz Tainah Fagundes, mediadora da série de cinco bate-papos que compõem o projeto, realizados de 5 a 26 de junho, com diversos convidados que irão debater sobre moda e sustentabilidade.
Tecnologia e floresta em pé
A parceria da Da Tribu com famílias extrativistas começou em 2013, ainda na comunidade Paulo Fontelles, na Região Metropolitana de Belém. Desde então, foram produzidos 150 mil metros de fios emborrachados. A marca desenvolveu tecnologias próprias, em parceria com a Universidade de Brasília (UNB), para aprimoramento dos fios, processo que foi levado até a comunidade Pedra Branca.
Em 2019, a Da Tribu é reconhecida com a certificação “Amazônia Wild Rubber”, selo voltado para iniciativas que trabalham com a borracha Amazônica, apoiam produtores locais e conservam a floresta por matéria-prima vegana e renovável. “O fio de látex trouxe esperança, pois a floresta é o começo de tudo, ajuda a nos manter, nós vivemos do que cultivamos”, diz Manoel Magno, líder comunitário de Pedra Branca.
A tecnologia social é parte indissociável da moda produzida pela Da Tribu, que fortalece uma rede produtiva que celebra o ecossistema, a proteção da floresta e a valorização dos saberes tradicionais da Amazônia. “Podemos juntos construir elos de confiança e vencer os desafios sempre alinhados aos mesmos propósitos: floresta em pé, preço justo, empoderamento da comunidade e a construção de uma moda sustentável, limpa e amazônida”, resume Kátia Fagundes.
FICHA TÉCNICA
Fotos/Vídeos: João Urubu |Kleyton Silva | Luiza Chedieck
Local: Ilha de Cotijuba | Comunidade Pedra Branca | Amazônia | Brasil – 2019 e 2020
Realização: Da Tribu
Produção executiva: Tainah Fagundes
Concepção e desenvolvimento 3D/Web: Lucas Mariano
Conselho curatorial: Tainah Fagundes e Lucas Mariano
Peças Gráficas: João Urubu
Textos: Kátia Fagundes e Moahra Fagundes
Assessoria de Imprensa: Gil Sóter
Agenda bate-papos
Serviço
Da Tribu lança o projeto “O futuro é coletivo”, no sábado, 5, Dia do Meio Ambiente. A exposição audiovisual estará disponível no site da Da Tribu (datribu.com). A série de bate-papos sobre moda e sustentabilidade começa às 11h, com o encontro “O Futuro é a floresta”, com José Mattos Neto, da Via Floresta. A transmissão será pelas redes sociais da Da Tribu (www.instagram.com/datribu).
- 5/6, 11h | Bate-papo O Futuro é a floresta, com José Mattos Neto – da Via Floresta | PA
- 12/6, 11h | Bate-papo O Futuro é ancestral, com Sioduhi – da Piratapuya | AM
- 19/6, 11h | Bate-papo PANC’s – Alimentos do futuro!, com Beatriz Carvalho – do Mato no Prato | SP
- 19/6, 11h30 | Bate-papo O Futuro é justa trama, com Nelsa Nespolo, da Justa Trama | RS
- 26/6, 16h | Bate-papo O Futuro compartilhado, com Flavia Nestrovski – Roupateca | SP