Sustentabilidade no Minas Trend, com uma crítica aos calçados “veganos”
Materiais eco-amigáveis são o ponto positivo das marcas estreantes no salão de negócios, já o posicionamento como ecobrand pode melhorar
Ao pesquisar cada nova marca que se apresenta na 25ª edição do Minas Trend Outono/Inverno 2020, vimos algumas iniciativas de sustentabilidade aqui e ali. Felizmente, algumas marcas buscam usar materiais e processos com menor impacto ambiental. Entretanto, há uma confusão na abordagem de comunicação quanto aos calçados principalmente, que falamos mais ao final do texto.
Conheça todas as marcas estreantes no Minas Trend em:
Novas Marcas no Minas Trend Outono/Inverno 2020
No vestuário, Andreza Chagas está com uma coleção com liocel, fibra a partir da madeira, e Renata Coelho tem algumas peças com bordado macramê, que valoriza técnicas tradicionais do “feito à mão”.
Já nas joias e bijoux, a Design Natural mistura madeiras com gemas semi preciosas, enquanto a Soneto usa borracha flexível com corte laser. Tem a novidade da Studio 11 Hand Made, marca pernambucana que faz óculos de madeira. Finalmente, o Studio Lama Design utiliza acrílico 100% reciclado e tem um ponto de coleta de peças no Rio de Janeiro para serem remanufaturadas (famoso conceito de “upcycling”).
Quanto aos calçados e acessórios, a Cura tem um design minimalista, em couro, com a linguagem visual que tanto expressa o mainstream da moda sustentável, de peças clássicas para uma moda de longa duração.
Com bolsas feitas de jornal e chita, a premiada Associação de Empreendedores do Artesanato Futurarte, criada pelo Instituto Ramacrisna com o patrocínio da Petrobras, busca “promover o desenvolvimento sustentável das comunidades de área rural da cidade de Betim e paralelamente zelar pela preservação das técnicas artesanais da cidade, do estado e a valorização da cultura local.”
Finalmente, vamos falar dos calçados. Uma das marcas estreantes é a Ipadma, já consolidada no mercado, e que utiliza materiais ecológicos nos calçados, como borracha reciclada. Porém, ela tem dois errinhos de comunicação bem comuns. O primeiro é o uso do termo “couro vegetal”, e o segundo é o uso do termo “calçado vegano”. A saber, a empresa (e não só ela…) usa o termo “couro vegetal” para denominar o couro com produção mais limpa no curtimento. Trata-se da pele bovina com menor impacto ambiental no tratamento no curtume (maciez, cor). É o curtume que desenvolve e fornece para outras marcas de calçados – Ipadma dentre elas.
Acontece que o termo “couro vegetal” é proibido no nosso país pela famosa Lei do Couro. Além disso, na história da moda brasileira, ele tem mais a ver com o material encauchado de algodão com látex feito por índios e seringueiros na Amazônia (chamado popularmente de “couro vegetal” no Acre, Rondônia e Amazonas) – do que com o pleonasmo do “couro bovino”. Por Lei, couro é só de animal. Fim.
A Ipadma também usa o termo “vegano”, como algumas outras marcas, a exemplo da Insecta Shoes, posicionando-se no rol das ecobrands de calçados. Mas a gente sabe que muitos calçados não usam nada que vem de animais (cabedal de laminado sintético, solado de borracha ou EVA, aglutinantes industriais, couraça com recouro e polímero, cadarço de algodão convencional ou poliéster – é o que mais tem), e nem por isso se posicionam como “veganos”. Calçado auto-denominado vegano significa calçado de materiais sintéticos ou naturais, meramente. E não quer dizer que o sintético seja melhor (às vezes, ele só é à base de petróleo mesmo, como poliuretano, poliéster, PVC…). O uso de materiais com redução de impacto ambiental, como a empresa bem faz uso (fibra de bananeira, poliéster e algodão reciclados), entretanto, é indiscutivelmente louvável. O que tem que melhorar são as abordagens de comunicação, de modo a não criar vantagem competitiva por meio de uma distorção do conhecimento para o consumidor.
Saiba mais:
- DUARTE, Luciana dos Santos. Estudo comparativo do impacto ambiental do jeans CO/PET convencional e de jeans reciclado. Dissertação de mestrado em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013, 101 p.
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