Estudo da inovação e empreendedorismo
Confira artigo que apresentamos e publicamos no VII Esocites – Simpósio Nacional de Ciências, Tecnologias e Sociedades, da Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias, na Universidade de Brasília.
GONZÁLEZ, Silvia Alexandra Peña; DUARTE, Luciana dos Santos. Abordagens teóricas para o estudo da inovação e sua interface com manifestações do empreendedorismo. Anais do VII Simpósio Nacional de Ciências, Tecnologias e Sociedades, Universidade de Brasília, 2017.
ABORDAGENS TEÓRICAS PARA O ESTUDO DA INOVAÇÃO E SUA INTERFACE COM MANIFESTAÇÕES DO EMPREENDEDORISMO
Silvia Alexandra Peña González, Universidade Federal de Minas Gerais, silvi.penag18@gmail.com
Luciana dos Santos Duarte, Universidade Federal de Minas Gerais, santosduarte.luciana@gmail.com
1. INTRODUÇÃO
O termo inovação tem se tornado de amplo alcance dentro dos contextos atuais de intensificação competitiva que acompanham o fenômeno da globalização. Atualmente, promover a capacidade de inovação é um dos principais objetivos dos gestores públicos e privados para a sustentabilidade econômica das empresas e das economias locais.
Sendo a inovação uma força motriz do desenvolvimento econômico, percebe-se a importância de enxergar as dificuldades e sucessos que fazem parte da trajetória de um empreendedor ao desenvolver uma ideia inovadora em um determinado contexto. Apesar de o termo inovação ter se generalizado e aparecer como conceito do senso comum na sociedade e, neste sentido, apresentam-se abordagens metodológicas de análise que podem explicar a criação e difusão de este fenômeno de formas radicalmente diferentes (NIETO, 2003). Segundo ROSENBERG (1983), uma mudança tecnológica pode ser considerada como uma “caixa preta” de um sistema dinâmico conformado por organismos vivos, que evoluem em resposta ‘a’ e se adaptando ‘às’ influências externas.
Esta jornada da inovação por vezes altamente imprevisível e incontrolável, não pode ser abordada adequadamente apenas por meio das contribuições de indivíduos isolados; é necessário examinar como as forças sociais maiores alteram continuamente o foco dos problemas tecnológicos (ROSENBERG, 1983).
De forma geral, empreendedores iniciam sua trajetória a partir de um “plano de negócios”, descrevendo uma oportunidade identificada, um problema a ser resolvido e sua solução proposta. Tal documento inclui uma sequência de atividades para serem executadas, projeções de vendas, receitas, lucratividade, fluxos de caixa, entre outros, isto é, dados que foram definidos a partir de uma cuidadosa pesquisa de mercado, os quais geralmente são coletados e/ou elaborados pelo empreendedor em isolamento, antes de conceber o produto.
Sabe-se que o empreendedor é definido não só pelo objetivo de sua atividade de trabalho, ou seja, realizar a inovação, mas também pela habilidade de antecipar situações ou de construir uma visão diferenciada do mercado econômico para alcançar sucesso, apoiado por um bom plano de negócios (CAMPOS e DUARTE, 2013). No entanto, a realidade parece se contrapor a esta visão idealizada.
Um plano de negócios raramente sobrevive ao primeiro contato com clientes (BLANK, 2013). O modelo de negócio inicial é constantemente modificado pelo empreendedor no curso de sua ação, conforme os resultados do que foi planejado não corresponder às necessidades e requerimentos dos diferentes atores envolvidos num contexto determinado.
Consequentemente, há um forte questionamento da concepção linear e previsível do processo de inovação, apresentado como um modelo estático, a exemplo do plano de negócios, que prevê uma incapacidade para explorar a dinâmica social inerente e as suas densas interligações (KÖHLER e GONZÁLEZ, 2014).
Segundo BENAKOUCHE (1999), o impacto de uma nova tecnologia tem sido estudado desde diferentes perspectivas ao longo do tempo. Desde uma visão que se preocupa exclusivamente por entender as vantagens e incertezas do sistema técnico, sob o chamado determinismo tecnológico. Posteriormente, surge a preocupação e interesse do impacto social das novas tecnologias, nascendo a denominada sociologia da técnica. Todavia o interesse tem se voltado, sobretudo, ao estudo das mútuas relações entre tecnologia e sociedade, passando a se enfocar a análise do processo de produção e difusão dos objetos técnicos. Esta diversidade leva a autora a refletir que responsabilizar a técnica pelos seus “impactos sociais negativos”, ou mesmo seus “impactos sociais positivos”, é desconhecer o quanto – objetiva e subjetivamente – ela é construída por atores sociais, ou seja, no contexto da própria sociedade (BENAKOUCHE, 1999).
Sendo assim, a inovação é concebida como um fenômeno caracterizado pela presença de incertezas de diferentes origens e características particulares, que nascem na tentativa de dar conta de uma multiplicidade de interesses sociais e questões de origem técnica que estão inseridos no desenvolvimento de certa tecnologia, e influenciam as decisões para a criação e difusão da inovação.
No mundo inteiro vem crescendo largamente um novo segmento empresarial das chamadas “startups”, iniciativas emergentes vistas como novos modelos de inovação. Trata-se de empresas nascentes de base tecnológica com elevado potencial de crescimento, que demandam uma capacidade de execução particular com o objetivo de escalar rapidamente a nível global (MEYER, 2012). Esta forma de empreender traz consigo um cenário de muita incerteza, e na tentativa de introduzir a novidade ao mercado emergem riscos e características particulares desde sua criação, seu desenvolvimento, seus objetivos e seus resultados em diferentes contextos.
Estes novos modelos de inovação não são limitados a um jogo que envolve pesquisa e desenvolvimento, empresas e mercado (VINCK, 2010), isto é, trata-se de um processo complexo que deriva e depende de diferentes dimensões sociotécnicas. TIDD et al (2008) endossam tal argumentação, ao observar o grande número de ideias aparentemente boas que falharam. Verifica-se que para cada sucesso há muitos fracassos: produtos são retirados das prateleiras poucas semanas depois do lançamento, startups badaladas pela imprensa são esquecidas alguns meses depois, e novos produtos acabam não sendo usados por ninguém.
Para uma startup atingir seu potencial, deve passar por uma série de etapas, nas quais enfrenta diferentes desafios. Segundo BLANK (2015) passam por três grandes estágios: busca, construção e escala. Na maioria das vezes o desenvolvimento de uma startup acaba se restringindo quase que exclusivamente ao estágio de busca, pois o empreendedor na tentativa de validar suas hipóteses, se depara com o fato de que a proposta criada não responde às necessidades reais do seu mercado objetivo. Ainda assim é comum encontrar startups que fracassam apesar das expectativas positivas, e do investimento pessoal e de importantes recursos econômicos.
Nesses contextos de extrema incerteza, os estudos do fenômeno da inovação parecem que não podem mais serem reduzidos a um modelo mecânico, racional e individualista em conformidade com uma abordagem da economia utilitarista. Este fenômeno demanda de uma compreensão abrangente dos atores internos e externos, estudando os fluxos de informação dos processos que geram uma cumulação de conhecimentos, a partir da mobilização de habilidades coletivas e conhecimentos mais ou menos compartilhados.
Logo, nota-se a oportunidade de compreender as capacidades de incorporar o conhecimento externo, transformá-las e combiná-las estrategicamente com as suas competências internas, dentro das suas práticas (BENDER, 2003).
Dado o exposto, o presente trabalho tem como objetivo abordar questões teóricas que permitam explicitar o desenvolvimento de uma startup dentro de cenários de risco, correlacionando algumas abordagens da sociologia do conhecimento com as manifestações atuais do empreendedorismo tecnológico difundidas na cultura de startups. O artigo foi estruturado a partir de uma revisão bibliográfica das distintas abordagens desenvolvidas ao longo do tempo; seus principais representantes, conceitos, impactos para o entendimento da inovação, além das manifestações de empreendedorismo conforme hábitos e práticas culturais de startups. Espera-se que este trabalho possa ampliar uma discussão atualizada do tema, preencher lacunas existentes. Não obstante, pretende-se correlacionar e explicitar o aporte teórico ao ligar perspectivas sociais e técnicas, que sejam capazes de sustentar o sucesso ou fracasso na introdução de uma inovação ao mercado.
2. ABORDAGENS TEÓRICAS
2.1. A INOVAÇÃO COMO UM PROCESSO PREVISÍVEL, LINEAR E RACIONAL
Uma das primeiras aproximações ao conceito de inovação provém de SCHUMPETER (1961), quem concebe a inovação como um fenômeno de produção de novo conhecimento tecnológico, a partir de diferentes combinações dos meios de produção, gerando mudanças nos níveis técnico e organizacional na indústria, e que impactam na economia. Segundo este autor, o progresso ou desenvolvimento econômico é fruto resultante de processos destrutivos e construtivos, conhecido também como fenômeno tecnológico; em que as tecnologias, ao mesmo tempo em que destroem, também criam gerando processos de inovação tecnológica (SCHUMPETER, 1984).
Para o autor, a inovação representa um processo de transformação econômica, social e cultural e, embora tais fatores socioculturais estejam presentes, não determinam a inovação decisivamente. O empreendedor precisa saber lidar com as preocupações da vida cotidiana (renda, escopo, tempo, etc.), e com resistências do meio social; contra quem deseja realizar uma coisa nova. Assim, considera-se a interferência social como uma resistência que precisa ser superada pelo empreendedor. Para este autor, o indivíduo somente pode agir racionalmente enquanto estiver no “fluxo circulatório costumeiro” porque sabe em que terreno pisa e se baseia na conduta de todas as outras pessoas (SCHUMPETER, 1961).
A saber, alguns conceitos tratados neste artigo devem ser definidos, como tecnologia e inovação. A tecnologia se constitui de forma autônoma, seguindo seu próprio curso à margem da intervenção humana ou social, além de ter um caráter neutro pois não incorpora valores, interesses nem conflitos sociais (EDWARD, 1996). Já a inovação é entendida como um processo de modelo linear e previsível, que resulta de uma sucessão de fases sequenciais previamente definidas para cada projeto, cada fase composta de um tipo específico de atividade e conhecimento, gerando um resultado claro e distinto associado com cada uma delas (ROSEGGER, 1987).
Após os trabalhos de SCHUMPETER (1961), as pesquisas da análise da ação do empreendedor tenderam a supervalorizar a sua habilidade de antecipação. O empreendedor é definido não só pela inovação, mas principalmente pela habilidade de antecipar situações ou de construir uma visão diferenciada do mercado econômico como um novo modelo de negócio.
Essa habilidade de antecipação depende especialmente de uma ação racional para ser bem-sucedida. As principais pesquisas que abordam esta representação racionalista do trabalho do empreendedor foram desenvolvidas por DRUCKER (1987). A característica principal de seus estudos é a sistematização do ato de inovar no gerenciamento com ênfase no planejamento. Para este autor, qualquer empreendimento novo é uma atividade arriscada, porém, este risco pode ser reduzido ou minimizado com disciplina e uma metodologia de trabalho de planejamento (DRUCKER, 1987).
FILION (2000) considera que um empreendedor utiliza sua experiência anterior e capacidade autodidata para adquirir os conhecimentos necessários ao desenvolvimento do empreendimento, a fim de imaginar visões sobre o que deseja alcançar. Para este autor, a tarefa principal é imaginar e definir o que querem fazer e, quase sempre, como irão fazê-lo. Para a ação antecipatória, o empreendedor utiliza tanto o pensamento racional quanto a intuição. Logo, seja racional ou seja intuitiva, a ação antecipatória é privilegiada na representação tradicional da atividade de trabalho do empreendedor quando comparada à sua ação concreta de inovar (FILION, 1991).
As primeiras controvérsias sobre a validade deste modelo racional e previsível para a análise da inovação e ação empreendedora remontam a um dos principais exponentes da ortodoxia econômica do século XX, Friedrich A. Hayek.
Se tem disponível toda a informação relevante, se parte de um sistema de preferências predeterminadas e se tem todo o conhecimento completo dos meios disponíveis, o problema resultante é de pura lógica (…). Embora, não seja este o problema econômico que a sociedade faz frente. O caráter peculiar de uma ordem econômica racional está determinado pelo fato de que o conhecimento das circunstâncias que emergem nunca existe de forma concentrada e integrada, sempre esse conhecimento está disperso, incompleto e frequentemente é contraditório ao aquele que todos os indivíduos possuem de forma isolada (HAYEK, 1945).
Os empreendedores são levados a crer que ao ter um projeto de empresa preciso, apresentar a ideia a investidores, captar recursos, montar sua equipe e partir para a produção para, em seguida, lançar o produto no mercado, o sucesso estaria assegurado. Iludidos por essa representação parcial da atividade empreendedora, quando chegam a implementar seu projeto de empresa, podem ser vítimas da decepção quando tudo aquilo detalhado no plano de negócios começa a perder poder explicativo.
Na prática, em determinadas situações, em pouco tempo o empreendedor identifica a inviabilidade do seu projeto de empresa perfeitamente planejado. Segundo CAMPOS e DUARTE (2013) a importância do planejamento no trabalho do empreendedor precisa ser devidamente dimensionada. Se por um lado o planejamento pode ter um valor motivacional que impulsiona alguém a empreender, por outro lado a realidade da ação concreta pode gerar frustração ao encontrar uma realidade distinta da planejada.
O desenvolvimento de uma inovação não sempre se mostra como um resultado de atividades sequenciais e ordenadas, o processo inovador pode começar em qualquer elo da cadeia, a partir de qualquer atividade relacionada (KLINE e ROSENBERG, 1989). No mercado, aparecem frequentemente produtos inovadores que não vêm unicamente do âmbito das instituições de ciência básica ou aplicada, mas sim de outros atores e contextos heterogêneos o que sugere um novo modelo interativo.
Neste enfoque de processos previsíveis, os empreendedores que se encontram no interior da empresa aparecem como heróis ou perdedores. Eles precisam superar as barreiras das incertezas, lidar com as preocupações do cotidiano, e as resistências da sociedade frente à introdução de uma inovação.
Em suma, acredita-se que o sucesso de uma inovação depende das decisões tomadas com base na intuição de seus líderes e orientações associadas a um bom plano, uma estratégia sólida, uma pesquisa de mercado completa, e da habilidade do empreendedor de projetar e planejar.
2.2 A INOVAÇÃO COMO UM FENÔMENO SOCIAL
Dentro dos modelos econômicos neoclássicos, o fator social não intervém de forma determinante e essencial no desenvolvimento de uma inovação. Por outro lado, as teorias de administração de negócios contemporâneas, têm sido limitadas a desenvolver conceitos normativos da inovação, construídos a partir da identificação de diferentes estilos e modelos de gestão e difusão, que explica o processo de inovação a partir de suas propriedades intrínsecas, adaptando o objeto técnico dentro de uma sociedade em um ambiente que pode ser mais ou menos receptivo.
Fazendo referência aos modelos de empresa denominados startups, RIES (2012) considera que desenvolver um produto inovador através de uma startup representa criar novos produtos e serviços a partir de uma “instituição humana” projetada para trabalhar sob condições de extrema incerteza. Frequentemente esta definição tenta ser reduzida a um produto ou uma inovação tecnológica, ou até mesmo numa ideia brilhante, mas o termo é maior do que a soma de suas partes; é uma iniciativa intensamente humana (RIES, 2012). Trata-se de projetos que respondem a um fenômeno que abarca também variáveis sociais, pois envolvem mais do que a ação individual dos projetistas; entram em jogo interesses dos diferentes atores envolvidos. A partir destes interesses vai se construindo um produto que vai evoluindo ao longo do tempo, até encontrar o modelo de negócios que pode ser replicado e escalar sob o modelo de startup.
Na busca de teorias que permitam dar conta deste modelo, identificou-se que a sociologia da tecnologia e da inovação representa um campo de pesquisa relativamente novo no âmbito geral da sociologia. A maior parte das pesquisas sociológicas da inovação tem sido focadas na análise do impacto da inovação tecnológica na sociedade, sem abordar uma análise sistemática da fisiologia da inovação para explicar a complexidade destes processos nos entornos socioculturais e organizacionais.
Dentro da sociologia clássica, os únicos estudos citados dentro da literatura da inovação, são as obras de Karl Marx, através da teoria de difusão da inovação de Everett Rogers, teoria que concebe a inovação como algo subjetivo que é percebido como novo dentro de uma comunidade, e que é difundida a partir de diferentes canais e redes de comunicação (ROGERS, 1962). A teoria da difusão da inovação de Rogers, enxerga o processo da difusão como um processo organizado do trabalho do homem para espalhar a novidade dentro de uma sociedade. Todavia não fornece uma explicação ao problema da gênese da inovação dentro de um contexto determinado através da ação social.
Mais recentemente, os estudiosos da sociologia começaram a interessar-se pela sociedade no próprio desenvolvimento da técnica, e as mútuas relações entre tecnologia e sociedade. A prioridade nestes estudos inverteu-se, e o foco passou a ser a análise do processo de produção e difusão dos objetos técnicos, tentando “abrir a caixa preta” dos objetos técnicos nos processos de inovação.
Nesta perspectiva foram definidos três princípios com clareza: (1) Evitar dar qualquer destaque ao papel do inventor ou empreendedor isolado, ou gênio; (2) Criticar toda manifestação de determinismo tecnológico; e, sobretudo, (3) Combater a dicotomia tecnologia-sociedade, procurando tratar de forma integrada os aspectos técnicos, sociais, econômicos e políticos do processo de inovação (BENAKOUCHE, 1999).
A nova escola da sociologia fundamenta o problema da gênesis da inovação, a partir de três enfoques principais: (i) o enfoque dos Sistemas socioécnicos, (ii) o enfoque Construtivista social, e (iii) o enfoque da Teoria do ator-rede (Actor-Network Theory).
2.3. SISTEMAS SOCIOTÉCNICOS
O enfoque dos sistemas sociotécnicos, representa os “sistemas tecnológicos” como um conjunto de elementos sociais, políticos, econômicos e técnicos envolvidos nas várias etapas de criação, desenvolvimento e difusão de uma tecnologia dada. O termo de sistemas sócio – técnicos vem de uma metáfora introduzida por Thomas Hughes – autor que pode ser considerado o principal representante desta abordagem – , como uma noção do caráter heterogéneo da construção de sistemas, com o intuito de elucidar a forma na qual a parte social vai do lado com a parte técnica simultaneamente.
Os componentes deste sistema sociotécnico são de diversa natureza, os elementos sociais têm a ver com os aspectos organizacionais, económicos, políticos, culturais, de treinamento do pessoal, legal, entre outros. Os elementos técnicos correspondem aos aspectos técnicos, de tipo material, de engenharia, energéticos, etc. O objetivo deste sistema sociotécnico é buscar associar e harmonizar os aspectos sociais e técnicos, visando garantir a otimização do desempenho do conjunto, e estabelecer um sistema no qual estes componentes heterogéneos se ligam entre si através de uma rede ou estrutura, ou rede sociotécnica (HUGHES, 1987).
Nesta abordagem surgem dois conceitos importantes, reverse salient (situações de problemas críticos que precisam de uma ação coletiva), e momentum (etapa em que o desenvolvimento de uma tecnologia dada adquire uma ampla aceitação por parte de indivíduos e instituições de algum modo relacionados a ela). Na medida em que tecnologia dada por estes dois conceitos adquire uma ampla aceitação pelos atores, e os sistemas técnicos expandem-se rapidamente, adquirindo autonomia (HUGHES, 1983; 1987).
Neste mesmo sentido da autonomia da tecnologia, o pensador francês SIMONDON (1958) introduz alguns conceitos que buscam redefinir as relações entre o homem e a máquina, abordar a gênese e a evolução propriamente dita dos objetos técnicos, e a essência da tecnicidade. O francês problematiza a posição da técnica no mundo e sua evolução, trazendo os conceitos de individuação coletiva e concretização.
Este autor teorizou a individuação nos processos de desenvolvimento tecnológico; como o processo pelo qual os “indiferenciados” se tornam “individuais” ou ao processo em que componentes “diferenciados” se tornam “indivisíveis” como um todo. O processo torna-se ontológico, permanente e incompleto, sempre deixando um “resíduo pré-individual” capaz de futuras individuações. Cada fase ou patamar atinge um equilíbrio metastático e possui um potencial de criação de novas formas ou de invenção de novas soluções sem, no entanto, eliminar as antigas: “O indivíduo é individual e continua a se individuar” (SIMONDON, 1969).
Para se tornar um indivíduo, o objeto técnico necessitaria adquirir uma condição especial, denominada por ele de concretização. Para este autor a tendência do objeto técnico é passar de um modo abstrato (objeto técnico é primitivo) ao modo concreto; um modo inteiramente consistente com ó próprio objeto unificado, o que não significa que não existam ainda conflitos internos. O objeto técnico concreto se assemelha ao organismo vivo, não é formado de funções e componentes separados que se somam; está integrado e organizado, parece ter uma própria autonomia suficiente para regular as causas e efeitos, e operar com o mundo natural (SIMONDON, 1989).
O autor considera que o verdadeiro progresso técnico é condicionado pela existência de objetos técnicos concretizados. Os objetos técnicos devem ser entendidos como resultados de diversos desenvolvimentos em processos contínuos de evolução. No início, os objetos são considerados abstratos ou artificiais, uma vez que os homens precisam, constantemente, intervir para garantir seu funcionamento; mas à medida que ocorre essa evolução, a necessidade de participação humana diminuiria e o objeto perderia sua artificialidade essencial. Simondon descreve o ato de invenção como uma “obra de vida” que consiste em “dar um salto sobre a realidade existente a formas novas que só podem ser mantidas porque existem todas juntas como um sistema constituído” (SIMONDON, 1989).
No universo do empreendedorismo tecnológico das chamadas startups, é visto que aquelas histórias fantásticas que mostram o empreendedor trabalhando numa inovação na garagem de sua casa, projetando produtos perfeitos que mudarão o mundo quando chegam ao mercado, e tornando-se milionários da noite para o dia, representam um ideal romântico que está muito longe da realidade.
Na maioria das vezes, é muito comum ver empreendedores que dedicam muito esforço e dinheiro para desenvolver um produto inicial que vai ser introduzido no mercado, mas, infelizmente, ao ser lançado não incorpora as necessidades reais dos seus consumidores-alvo; e termina desaparecendo em pouco tempo. Evidentemente o empreendedor se enfrenta a condições de muito risco, precisando incorporar no processo de desenvolvimentos aspectos não só de origem técnico, mas também sociais que têm a ver com as necessidades do mercado para o qual estão criando o novo produto. Repetindo o que disse RIES (2012), uma é uma instituição humana projetada para criar um novo produto ou serviço em condições de extrema incerteza.
Segundo RIES (2012) apesar das muitas causas para o fracasso, o erro mais importante é que “a visão inicial da empresa é quase concreta demais”, fazendo com que fosse impossível ver que o produto deles não representa a demanda dos consumidores com precisão.
Essa concretude inicial dos empreendedores leva a desenvolver objetos que segundo a visão de Simondon, não possuem uma própria autonomia suficiente para regular as causas e efeitos, e operar com o mundo natural. O empreendedor precisa iniciar sua jornada com objetos abstratos ou primitivos que evoluam até um modo concreto incorporando as demandas reais dos interessados, até o momento que o objeto concretizado seja capaz de ter uma autonomia suficiente dentro do mercado.
Segundo PETROSKI (1992) a forma dos artefatos está sempre sujeita a mudanças em resposta às suas deficiências reais ou imaginadas, e à incapacidade de funcionar de modo adequado. Precisa-se do “design aperfeiçoado”, que faz referência a mudanças sucessivas, para o objeto evoluir, a partir de suas falhas, até a “perfeição”.
Este autor considera que o design de um novo produto pode ser considerado bem-sucedido quando se atinge um equilíbrio entre forma e contexto (uso); precisa escapar ao determinismo tecnológico, que assume implicitamente uma concepção um tanto simplificada do funcionamento da sociedade.
Ainda conforme PETROSKI (1992), o objeto nunca pode ser visto em separado de quem o utiliza, mesmo durante sua evolução. Considera que o sucesso de um novo produto será tão completo quanto à capacidade que ele tem de antecipar as falhas do produto; o sucesso depende muito da antecipação e eliminação das falhas, e é quase impossível prever todos os usos e abusos a que o produto estará sujeito até que de fato ele seja usado, não no laboratório, mas na vida real.
No âmbito das startups, BLANCK (2015) argumenta que uma startup, antes de atingir seu potencial, ao passar por uma série de estágios (busca, construção e escala), tem que encarar diferentes desafios para fazer evoluir seu modelo de negócios até se tornar uma grande companhia.
Nesta trajetória de busca, construção e escala, o empreendedor precisa passar por um processo de “desenvolvimento de cliente” (customer development), metodologia também cunhada por BLANCK (2015). Este método prevê quatro etapas: descoberta do cliente, validação pelo cliente, geração de demanda e estruturação da empresa. As duas primeiras fases integram o estágio de “busca” da startup, que procura verificar se existe um problema real a ser resolvido, se o produto em questão o soluciona, as características mais importantes do produto, a existência de mercado e clientes, e testar o valor atribuído ao produto e sua demanda. Nessa fase, grande parte das startups, dependendo de como é o modelo de negócios validado, faz as primeiras vendas.
Mais tarde considera-se uma fase de “geração de demanda”, na qual a empresa procura acelerar seu crescimento, despendendo grandes somas de recursos para aumentar a demanda global de seus produtos. Por fim, a fase de “estruturação da empresa” objetiva o alcance do modelo de negócio que possibilita elevar a escala de forma sustentável, nesta fase a chamada startup, voltada à pesquisa, testes e validações, vira uma companhia, passando de um modo “buscar” para o modo “executar”.
Assim, cada passo é representado por uma trilha circular recursiva, ressaltando que é um processo de retroalimentação, em que hipóteses são geradas, testadas e só será dado o próximo passo se realmente houver validação dessas hipóteses.
Paralelamente surge um movimento Lean Startup que está sendo muito difundido dentro deste universo de empreendedorismo tecnológico, em termos gerais envolve um trabalho de identificação e eliminação de desperdícios nos processos de desenvolvimento de novos produtos.
O método Lean Startup de RIES fundamenta-se na interação com o cliente, desenvolver testes parta validar hipóteses e melhorias ao longo do processo, tudo isso antes de lançar definitivamente seu produto. Propõe o uso de uma ferramenta chamada Canvas que representa um diagrama que mostra como a empresa cria valor para si e para os clientes. O autor sugere a adopção do chamado “desenvolvimento ágil”, que busca eliminar perda de tempo ou de recursos, pois o produto é desenvolvido de forma iterativa e incremental (RIES, 2012).
Dentro dos ecossistemas de startups, hoje em dia está sendo muito difundida estas metodologias do “Desenvolvimento do Cliente” e Lean Startup, com o intuito de reduzir o risco dentro deste universo de startups, fazendo ao empreendedor refletir sobre a necessidade de compreender o desenvolvimento da tecnologia como um sistema que incorpora variáveis técnicas e sociais.
2.4. SISTEMA SOCIAL CONSTRUTIVISTA
Surge uma corrente conhecida como social – construtivista, ou construção social da tecnologia “SCOT”, com autores como Wiebe E. Bijker, Thomas P.Hughes e Trevor Pinch. Nesta corrente, tudo o relativo a uma tecnologia dada, do seu planejamento a seu uso, estaria sujeito a variáveis sociais, e está aberta à análise sociológica.
Estes autores destacam alguns conceitos importantes na construção desta abordagem. Os chamados “grupos sociais relevantes” como aqueles atores mais diretamente relacionados ao planejamento, desenvolvimento e difusão de um artefato dado; estrutura tecnológica (technological frame), termo referente às teorias, conceitos, estratégias, objetivos ou práticas utilizados na resolução de problemas ou mesmo nas decisões sobre usos; o conceito de flexibilidade interpretativa (interpretative flexibility) como a medida em que os grupos atribuem diferentes significados a um mesmo artefato, sua construção supõe um exercício de negociações entre esses mesmos grupos; e a estabilização ou fechamento (closure) que representa atividades de ajustes para que um significado seja fixado ou aceito (BENAKOUCHE, 1999).
Nesta abordagem para compreender o sucesso ou fracasso de uma tecnologia se deve olhar para o mundo social, para explicar uma tecnologia bem sucedida os pesquisadores precisam ter uma compreensão orientada por duas fases principais; uma primeira que faz referência à identificação dos grupos sociais relevantes a serem acompanhados, e uma segunda que precisa o acompanhamento dos atores, procurando enxergar as interpretações ou significações alternativas da tecnologia, analisar os problemas e conflitos que estas interpretações dão origem, e conectá-los às características de design dos artefatos tecnológicos.
Nesta corrente aparecem questões referentes a grupos de interesse, ações de negociação e estabilização de interesses sociais, aspectos que têm sido causas das maiores críticas, pelo fato de que a análise construtivista não garante, por ela mesma, benefícios para os grupos menos privilegiados ou menos poderosos. Examina os grupos sociais e interesses que contribuem para a construção de tecnologia, mas ignora aqueles que não têm voz no processo, mas ainda são afetados por ela, sendo vista como uma sociologia conservadora e elitista.
Fazendo um paralelo com a cultura das startups, encontra-se que as metodologias antes descritas (desenvolvimento do cliente e Lean Startup) buscam também identificar os grupos sociais relevantes para serem acompanhados ao longo do desenvolvimento da inovação, e introduzir suas necessidades nas especificidades do produto desenvolvido passando pelos outros conceitos definidos dentro desta teoria construtivista (estrutura tecnológica, flexibilidade interpretativa e estabilização ou fechamento).
Apegadas a este enfoque dentro do universo de startups surgem metodologias que pretendem adotar processos de desenho e desenvolvimento de projetos com foco na atenção dos usuários, como o chamado Design Thinking. Modelo que estabelece que no desenho de novos produtos é impossível identificar as necessidades dos clientes através só da verbalização; compromete uma imersão ao problema do usuário ou entendimento da realidade em questão. Esta metodologia propõe o dimensionamento e criação de conceitos, a partir do entendimento do problema a ser resolvido, introduzindo nestes conceitos a informação chave que um artefato ou instrumento que está sendo desenvolvido precisa incorporar (CROSS, 2011).
No mesmo sentido, identificou-se a metodologia denominada UX – Experience ligado ao design de plataformas digitais, que está sendo muito difundida nos ecossistemas de empreendedorismo tecnológico. Busca entender a experiência do usuário a partir de uma interação humano-interface, enxergando aspectos estéticos e afetivos, através das percepções de uma pessoa dos aspectos práticos, como a utilidade, a facilidade de utilização e a eficácia do sistema; com o intuito de criar sistemas que possam ser facilmente adaptados pelos usuários previamente identificados.
2.5. ENFOQUE DE REDE DE ATORES
Surge uma nova perspectiva onde o sucesso de uma inovação pode ser explicado a partir da sua capacidade de criar relações como rede entre as diferentes partes interessadas sob o modelo de interessement (“interessamento”). O destino da inovação depende da participação ativa de todos os envolvidos em seu desenvolvimento, colocando em destaque as relações e articulações que existem entre o objeto técnico e os atores relacionados.
A “Teoria Ator-Rede” (Actor-Network Theory – ANT) é uma teoria que fornece uma ferramenta para o estudo dos diversos atores e fases na introdução de uma nova tecnologia. A capacidade de gerar uma inovação tecnológica é incentivada por meio de redes heterogêneas de atores humanos e não humanos do tipo técnico ou social, cada um dos quais é capaz de fazer a sua presença separadamente dos outros atores (CALLON, 1986).
Esta teoria visualiza a inovação como um processo de “tradução” (CALLON, 1986; LATOUR, 1987), que significa principalmente atribuir a um elemento de uma rede-atores “uma identidade, interesses, um papel a ser representado, um curso de ação a ser seguida, e um projeto a ser posto em prática” (CALLON, 1986b, apud BENAKOUCHE, 1999). Uma tradução bem-sucedida é aquela que depende da capacidade dos atores em fazer aliados, ou seja, definir papéis e convencer os outros a desempenhá-los, especialmente aqueles que queiram desafiar tais definições e ignorar as práticas que lhes são associadas.
No campo da inovação tecnológica, a chave para a ANT está na compreensão de como as partes interessadas interagem para construir redes heterogêneas fortes ou fracas. Tal interação se dá por meio de um processo social de contínuas negociações e alinhamento de interesses, formando alianças e canalizando os recursos para atingir, manter e estabilizar a rede, na medida em que se dedicam a transformar uma ideia em uma inovação, através de processos coletivos.
Desde esta abordagem, existe uma inversão da concepção do empreendedor, o sucesso da inovação acontece na medida em que o empreendedor conseguir convencer os atores sociais a cooperarem com ele, e lograr os chamados processos de tradução da Teoria Ator Rede. As principais habilidades do empreendedor não são do visionário e nem a do planejador, mas são habilidades sociais de agenciador, coordenador e negociador de cooperação e colaboração (CAMPOS e DUARTE, 2013). A maior virtude desta abordagem constitui o fato de tentar resolver de forma radical a distinção entre tecnologia e sociedade e os problemas de ordem tanto ontológica como metodológica, a partir do reconhecimento de atores humanos e não humanos como atantes na rede.
As críticas feitas a esta teoria residem no fato de que o empreendedor é visto como militar em ação, dado que mobiliza recursos, enrola elementos, programa forças, desenha estratégias, mapeia o espaço da ação futura, traduz interesses e ainda é capaz de trair para lograr seus objetivos (HARAWAY, 1997). Nesta perspectiva, pode-se considerar que o empreendedor tem uma ação maquiavélica.
A partir das críticas da Teoria do Ator-Rede que aparece como processos de interessment de caráter maquiavélico, apresentam-se elementos chamados objetos de fronteira, como artefatos e conceitos de base para a cooperação e mediação, capazes de lidar as demandas políticas e científicas, como um resultado da iteração entre mundos sociais (NUNES, RAJÃO, SOARES – FILHO, 2016).
Estes objetos de fronteira são denominados de fronteira porque se situam na fronteira entre diferentes mundos sociais (STAR e GRIESEMER, 1989); e permitem a comunicação entre diferentes mundos porque contém uma linguagem comum mínima para ambos os lados estabelecerem um entendimento compartilhado. Esses objetos podem ser abstratos ou concretos e possuem diferentes significados em diferentes mundos sociais, mas que, ainda assim, podem ser utilizados como um meio de tradução (STAR e GRIESEMER, 1989).
Nesta mesma lógica, VINCK (1999) a partir do estúdio de redes de cooperação científica no campo de ciências médicas e saúde pública propôs a noção de objeto intermediário, que posteriormente, começou a ser aplicado para estudar o processo de concepção. O objeto intermediário representa um recurso de comunicação utilizado entre diferentes atores de um projeto e um instrumento de coordenação entre diferentes especialidades, caracterizando-se como um objeto de natureza “híbrida”. Essa natureza hibrida permite tanto explorar o conteúdo da concepção e as interações entre os atores como vetores da cooperação ou da coordenação entre eles.
Frequentemente um objeto intermediário se diferencia do objeto de fronteira, segundo o conteúdo que o objeto representa, existe a premissa de que um objeto intermediário necessariamente precisa ser uma representação de algo em construção, seja um projeto de concepção, um projeto de pesquisa ou algo similar.
A partir desta abordagem que considera que o sucesso de uma inovação está relacionada com a capacidade do empreendedor para coordenar e negociar diferentes interesses dos atores envolidos; pode-se elucidar que o empreendedor tem dois grandes desafios: (1) reconhecer quais são os atores chaves para o desenvolvimento da startup, definir aqueles atores cuja participação é vital para a criação do projeto de empresa; e (2) entender por completo os interesses reais destes atores para que eles possam ser integrados na proposta definida pelo empreendedor.
Na prática, um empreendedor pode ter grandes dificuldades em identificar quais são os atores que se apresentam como essenciais na trajetória de cada projeto, e ainda saber como chegar a eles no caso de tê-los identificado, questão que tem a ver com a rede de contatos disponível do empreendedor no momento de desenvolver sua proposta. Ele precisa conhecer o contexto no qual será desenvolvida a inovação e para quem ela está sendo criada, de forma que possa construir sua rede de atores necessária e levar a cabo os processos de tradução e interessment. A partir destes processos, o empreendedor tem o desafio de articular e incorporar os interesses desta rede de atores num objeto específico, sob o nome de Produto Mínimo Viável (Minimal Viable Product – MVP) como uma das bases sustentada na teoria Lean Startup.
Este MVP representa um produto com o mínimo de recursos possíveis para ser lançado ao mercado alvo, embora mantenha a função de solução ao problema para o qual foi configurado em forma de produto. Seu objetivo principal e que o empreendedor ofereça o mínimo de funcionalidades para conhecer na prática a reação do mercado, a compreensão do cliente sobre seu produto e se ele — de fato — soluciona o problema do consumidor (RIES, 2012).
A partir do funcionamento deste produto, a startup pretende entender os “porquês” que estão por trás do comportamento dos usuários, além de detectar falhas em seus produtos antes de seu lançamento integral e visualizar o que deve ser ajustado. Um MVP permite gerar uma troca de informações com o ambiente externo, aceder a um feedback que ajudará a nortear o desenvolvimento de um produto, fazendo com que a empresa dê apenas o pontapé inicial para uma construção coletiva com os atores envolvidos no projeto.
O MVP responde à lógica dos objetos intermediários, cumprindo uma função de um espaço em comum entre diferentes atores que expressam seus desejos e necessidades, para serem incorporados nesta na construção do projeto de inovação. Os empreendedores podem fazer uso deste recurso para ser melhorado continuamente num longo processo de tentativa e erro, trabalhando sucessivamente de forma iterativa em etapas de Construir, Medir e Aprender da metodologia Lean Startup, com o intuito de validar as hipóteses iniciais até concretizar uma proposta que possa ser replicável e escalar no tempo.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho apresentou uma correlação de abordagens teóricas diversas que investigam o fenômeno da inovação. Por meio de uma pesquisa teórica e bibliográfica, buscou-se provocar uma discussão ontológica abrangente e atualizada da interface da inovação com o empreendedorismo, relacionando perspectivas sociais e técnicas, e contribuindo com uma reflexão crítica sobre os temas estudados.
Os entendimentos finais convergem para uma assemblage das linhas de reflexão estudadas, como forma de facilitar a criatividade em cenários distintos de inovação. Sugere-se como pesquisas a partir desta, estudos de caso de startups em diferentes momentos de desenvolvimento, problematizando o empreendedor e a comunidade em que ele atua.
BIBLIOGRAFIA
BENAKOUCHE, T. Tecnologia é Sociedade: Contra a noção de impacto tecnológico, Cadernos de Pesquisa, nº. 17, PPGSP/UFSC, 1999.
BENDER, G. Innovation in Low-Tec Companies – Towards a Conceptualisation of Non-Science-Based Innovation, en HIRSCH-KREINSEN, H., JACOBSEN D., LAESTADIUS St. (eds.), Low Low-tech Innovation in the Knowledge Economy, Frankfurt. a.M. et al., Peter Lang, pp. 85-98, 2003.
BLANK, S. Why the Lean Start-up changes everything. Harvard Business Review, May, 2013.
BLANK, S. Lean Innovation Management – Making Corporate Innovation Work, 2015.
CALLON, M. The Sociology of an Actor-Network: The Case of the Electric Vehicle. M. Callon; J. Law y A. Rip, 1986.
CAMPOS, N.; DUARTE, M. F. A dimensão social da atividade emprendedora. Cadernos de Psicologia social do trabalho. Vol. 6. 13-23, 2013.
CROSS, N. Design Thinking, Understanding how designers think and work. Berg, Oxford, New York. 2011.
DRUCKER, Peter F. Inovação e Espírito Empreendedor (entrepreneurship): prática e princípios. Trad. De Carlos Malferrari. 2ª edição. São Paulo: Pioneira, 1987
EDWARD A., La vida social de las máquinas: orígenes, desarrollo y perspectivas actuales en la sociología de la tecnología, REIS, N° 76, pp. 141-170 Barcelona, 1996.
FILION, L. J. O planejamento do seu sistema de aprendizagem empresarial: identifique uma visão e avalie o seu sistema de relações. RAE, v. 31, n. 3, p. 63-71, jul/set. 1991.
FILION, L. J. Empreendedorismo e gerenciamento: processos distintos, porém complementares. RAE, v. 7 . n. 3 . p. 2-7, jul./set. 2000.
HAYEK, F. The Use of Knowledge in Society, The American Economic Review, Vol. 35, No. 4. pp. 519-530, 1945.
HARAWAY, D. Modest_Witness@Second_Millennium.FemaleMan_Meets_OncoMouse: Feminism and Technoscience. New York: Routledge, 1997
HUGHES, T. The Evolution of Large Technological System, en BIJKER, W.; HUGHES, T.; PINCH, T. The Social Construction of Technological System. MIT Press, Cambridge (MA), pp. 51-82, 1987.
KLINE, S.; ROSENBERG, N.; An Overview of Innovation, in: Landau, R., Rosenberg, N. (Eds.), The Positive Sum Strategy: Harnessing Technology for Economic Growth. National Academies Press, Washington, 1989.
KÖHLER, H,; GONZÁLEZ, S. Elementos para un concepto sociológico de Innovación, Universidad de Oviedo, Empiria, Revista de Metodología de Ciencias Sociales. No 29, pp. 67-88, 2014.
LATOUR, B., Science in Action: How to Follow Scientists and Engineers through Society. Milton Keynes, Open University Press, 1987.
LATOUR, Bruno. Ciência em Ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São Paulo: UNESP, 2000.
MEYER, J. Welcome to entrepreneur country. Constable & Robinson Ltd., London, 2012.
NIETO, M. Características dinámicas del proceso de innovación tecnológica en la empresa, Investigaciones Europeas de Dirección y Economía de la Empresa, Vol. 9, Nº 3, pp. 139-156, 2003.
NUNES, F., RAJÃO R., SOARES-FILHO B., Boundary work in climate policy making in Brazil: Reflections from the frontlines of the science-policy interface, Environmental Science & Policy 59, pp. 85–92, 2016.
PETROSKI, H., A evolução das coisas úteis. Random House Inc. New York, 1992.
RIES, E. A startup enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua para criar empresas extremamente bem-sucedidas /; [tradução Texto Editores]. – São Paulo: Lua de Papel, 2012.
ROGERS, E. Difussion of Innovations. A Division of Macmillan Publishing Co., Inc., United States of America, 1962.
ROSENBERG, N. Incertidumbre y Cambio Tecnológico, Revista de Historia Industrial, No. 6, 1994.
ROSEGGER, G., MANTEL, S. The Role of Third-Parties in the Diffusion of Innovations: A Survey. En Innovation: Adaptation and Growth (pp. 123-134). Amsterdam: Elsevier Science Publishers. 1987.
SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Cultura. 1961
SCHUMPETER, Joseph Alois. A teoria do desenvolvimento econômico. 2ª Ed. São Paulo; Nova Cultura, 1984.
SIMONDON, G. Du mode d’existence des objets techniques. Paris: Aubier, 1989 [1958]
SIMONDON, G. L’Individuation psychique et collective, Paris: Aubier, 1969.
TIDD J., BESSANT J., PAVITT K., Gestão da Inovação. Terceira edição. Artmed Editora S.A. 2008.
VINCK, D. Les objets intermédiaires dans les réseaux de coopération scientifique: Contribution à la prise en compte des objets dans les dynamiques sociales. Revue Française de Sociologie, 40(2), 385-414; 1999
VINCK D. Innovación. El papel de los usuarios y de la sociedad, PACTE Politique – Organisations, Université de Grenoble, 2010.