Disciplina Moda e Sustentabilidade na graduação em Design de Moda UFMG
Contexto do curso de moda ética e sustentável de 2011 a 2012 – e sua revisão em 2021
Origens
Há quase uma década, criei e lecionei a disciplina “Moda e Sustentabilidade”, no curso de graduação em Design de Moda da Universidade Federal de Minas Gerais. Na época, a oportunidade da docência era uma contrapartida da minha bolsa obtida no Mestrado em Engenharia de Produção. A bolsa era do tipo REUNI, ou seja, ela incluía a experiência de professor e foi criada pelo departamento do curso de Design de Moda para ter docentes de outras áreas, como um mestrando (eu) e um doutorando (meu colega João Flávio de Freitas Almeida) da Engenharia de Produção.
Por conta das minhas habilidades em desenho e em ilustração de moda (eu havia aperfeiçoado com o professor e estilista Paulo André, famoso na época), fui selecionada bolsista para lecionar “Desenho Básico do Vestuário”. A disciplina estava indo bem e a Coordenação do curso, sabendo do meu tema de mestrado de jeans sustentáveis, bem como da minha experiência como assistente de estilo em empresa de moda sustentável, sugeriu que eu criasse e lecionasse uma disciplina optativa na área de sustentabilidade. Nascia então “Disciplina Optativa – Moda e Sustentabilidade”, com carga horário de 45h, ou 03 créditos. As aulas eram toda segunda-feira, das 19h às 22h25.
Desenvolvimento do Programa de Disciplina
Em 2010, eu tinha terminado a graduação em Design de Produto na Universidade do Estado de Minas Gerais, com uma monografia que trazia um estudo de caso durante um ano sobre a Osklen e especificamente a coleção Amazon Guardians, de 2007, que foi icônica para a moda sustentável.
DUARTE, Luciana dos Santos. O desenvolvimento de produtos de moda ética: uma análise das diretrizes de sustentabilidade aplicadas no setor de moda no Brasil. Trabalho de conclusão de curso em Design de Produto. Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
Logo, tratei de aproveitar um pouco da literatura recentemente estudada naquela época, que estava fresca, atual. Meu objetivo era focar na formação do designer para além do forte viés artístico, tradicional do curso que antecedeu a graduação em Design de Moda na UFMG, isto é, o curso Estilismo e Modelagem do Vestuário, criado em 1986.
Notícia: Belas-Artes comemora 20 anos de seu curso de Estilismo e Modelagem do Vestuário – UFMG
Além disso, a disciplina trazia uma reflexão crítica sobre a sustentabilidade, do quanto ela era estratégica (ou não!) para o jovem designer-empreendedor de moda. O curso não enfatizava uma visão descritiva e normativa de sustentabilidade, que considero uma escolha teórica equivocada e muito comum, pois o designer é um profissional que se reconhece na prática, no projeto, e não tanto na apreensão de narrativas normativas. O designer interfere no mundo, inventa futuros possíveis. Portanto, o foco era a prática, implicado, por exemplo, em quatro avaliações do aluno para explorar aspectos plurais de aprendizagem:
- Pesquisar uma marca de moda de aspecto sustentável e justificar. Trabalho impresso. Valor: 15 pontos.
- Relatório de visita técnica. Os alunos visitaram a antiga Raiz da Terra, atual Green Co. Valor: 20 pontos.
- Projeto de um look. Croqui técnico com explicações de uso de materiais, escolha de fornecedores, e definição de processos produtivos mais sustentáveis, além da justificativa conceitual. Valor: 25 pontos.
- Artigo de até 6 páginas sobre moda e sustentabilidade. Artigo teórico e crítico com uso das referências complementares. Valor: 40 pontos.
Uma questão nevrálgica era a bibliografia, pois a biblioteca da Escola de Belas Artes não tinha publicações sobre Moda e Sustentabilidade disponíveis. Então, eu tinha que sugerir livros que apenas tangenciavam o tema. Entretanto, com o auxílio das referências complementares de cada aula dada, eu conseguia construir o quadro conceitual necessário. Lembro que, em 2012, a Editora SENAC havia me enviado dois exemplares do livro recém-lançado “Moda e Sustentabilidade”, para que eu fizesse divulgação no meu blog de moda ética:
Então, doei um dos exemplares para a biblioteca da EBA, de modo que, informalmente, isto é, sem ser mencionado no Programa da Disciplina (que já havia sido aprovado no ano anterior ao lançamento do livro homônimo à disciplina), este livro passou a ser parte das referências que sugeria aos alunos. E é um ótimo livro que ainda recomendo. Eu havia recebido também exemplares gratuitos de livros de moda ética e sustentável da Editora Gustavo Gili, e não cheguei a recomendar, por terem um perfil mais técnico, descritivo e pouco crítico. Mas não deixam de ser referências válidas, então segue:
- Moda Ética para um Futuro Sustentável – Elena Salcedo
- Moda Sustentável: um guia prático – Alison Gwilt
O principal livro, no entanto, em que fundamentei a disciplina, era um da Kate Fletcher, que eu tinha importado – vide até o final do programa da disciplina a seguir.
Programa da Disciplina
PLANO DE CURSO – 2011/2 | ||||||||
DISCIPLINA: Moda e Sustentabilidade | CÓDIGO : DES 055 | |||||||
PERÍODO: | CARGA HORÁRIA: 45h | CRÉDITOS: 03 | ||||||
DEPARTAMENTO OFERTANTE: | ||||||||
TIPO: Optativa | ||||||||
EMENTA: Diretrizes para elaboração de projeto de moda verde, moda ecológica, moda sustentável e moda ética. | ||||||||
OBJETIVOS: | ||||||||
GERAL
Indicar estratégias para valorizar produtos de moda, consoante a perspectiva da ética e estética da sustentabilidade no setor de vestuário brasileiro. ESPECÍFICOS
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PROGRAMA:
Análise de especificações, requisitos, diretrizes e estratégias para desenvolvimento de projeto de moda ética. Compreensão de projeto de design de produto para a moda. Estudo de caso da empresa Osklen. 1. Contexto da moda ética
2. Metodologia de projeto de design de moda
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METODOLOGIA:
Fundamentação teórica, visita técnica, vídeos e materiais de apoio, produção de artigo acadêmico ao final. |
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CRONOGRAMA/ PLANO DE CURSO | ||||||||
Aula | Dia/Mês | Conteúdo | ||||||
01 | 12/03 | Apresentação, introdução, sensibilização ao tema. | ||||||
02 | 19/03 | Contexto histórico, definição de conceitos, caso Osklen. | ||||||
03 | 26/03 | Diretrizes, estudo de caso Amazon Guardians, Osklen. | ||||||
04 | 09/04 | Ecobags e modelagem. | ||||||
05 | 16/04 | Calçados e ergonomia. | ||||||
06 | 23/04 | Visita técnica à Green Co. | ||||||
07 | 07/05 | Uniformes e joias. | ||||||
08 | 14/05 | Materiais, estampas, cores, formas. | ||||||
09 | 21/05 | Conceito, inspiração, estilo. | ||||||
10 | 28/05 | Estéticas e ética. Orientação dos artigos | ||||||
11 | 04/06 | Projeto de produto de moda ética. | ||||||
12 | 11/06 | Design de sistemas para a sustentabilidade. | ||||||
13 | 18/06 | Projeto para equidade e coesão social. | ||||||
14 | 25/06 | Designers de moda sustentável. | ||||||
15 | 02/07 | Resíduos sólidos da moda. | ||||||
AVALIAÇÕES |
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No | TIPO | DESCRIÇÃO | VALOR | DATA | ||||
01 | pesquisa | Pesquisar uma marca de moda de aspecto sustentável e justificar. | 15 | 09/04 | ||||
02 | relatório | Relatório de visita técnica. | 20 | 07/05 | ||||
03 | look | Projeto de um look. | 25 | 04/06 | ||||
04 | artigo | Artigo de até 6 p. sobre moda e sustentabilidade. | 40 | 02/07 | ||||
BIBLIOGRAFIA: | ||||||||
BÁSICA:
1. PIRES, Dorotéia Baduy. Design de moda: olhares diversos. Dorotéia Baduy Pires (Org.) Barueri, SP:Estação das Letras e Cores Editora, 2008. 423 p. 2. JONES, Sue Jenkyn. Fashion design: manual do estilista. São Paulo: Cosac Naiy, 2005. 240 p. 3. KÜCHLER, Susane; MILLER, Daniel. Clothing as material culture. Oxford: Berg, 2005. 195 p. |
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COMPLEMENTAR:
1. LEE, Matilda. Eco chic: o guia de moda ética para a consumidora consciente. São Paulo: Larousse do Brasil, 2009. 224 p. 2. BAXTER, Mike. Projeto de produto: guia prático para desenvolvimento de novos produtos. São Paulo: Blutcher, 2000. 260 p. 3. FLETCHER, Kate. Sustainable fashion and textiles: design journeys. London: Stylus Public, 2008. 212 p. |
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ASSINATURA DO COORDENADOR:
___________________________________________ Profa Maria Goreti Boaventura Coordenadora de Colegiado do Curso de Design de Moda – EBA/UFMG |
Conteúdo das aulas
Brevemente, apresento a seguir qual era o conteúdo das aulas, que tinha o apoio de slides e outras referências complementares, além de material técnico (como catálogos de coleções, amostras de materiais, vídeos, etc.).
AULA 01 – Apresentação, introdução, sensibilização ao tema
Começava discutindo sobre as virtudes da cópia na indústria da moda, por ser um tema controverso e atrativo. Questionava a fragmentação da ética no próprio evento Ethical Fashion Show (atual Neonyt), e o quanto isso permitia que as empresas se posicionassem como de moda sustentável de uma forma geral, embora somente comtemplasse um aspecto de sustentabilidade. O próprio sistema da moda ética e sustentável valoriza o parcial.
AULA 02 – Contexto histórico, definição de conceitos, caso Osklen
DUARTE, Luciana dos Santos. Contexto histórico da moda ética e estratégias da ética da sustentabilidade para o desenvolvimento de produtos de moda. Anais do 1º SIMPEX Simpósio de Pesquisa e Extensão em Design. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2011.
O conceito de sustentabilidade que eu usava era o do SACHS, que contempla cinco aspectos. Veja a pirâmide de sustentabilidade aplicada à moda:
AULA 03 – Diretrizes, estudo de caso Amazon Guardians, Osklen
A Osklen, por meio de um de seus diretores, havia me cedido diversos materiais internos que podiam ser utilizados para fins educativos. Isso nos ajudou muito.
DUARTE, Luciana dos Santos. O desenvolvimento de produtos de moda ética: uma análise das diretrizes de sustentabilidade aplicadas no setor de moda no Brasil. Trabalho de conclusão de curso em Design de Produto. Universidade do Estado de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.
AULA 04 – Ecobags e modelagem
A aula era dividida em dois tópicos. Eu havia escaneado todo o livro “Ecobags” da jornalista Lilian Pacce, e descontruía com os alunos a narrativa de ecológico daquelas bolsas, demonstrando também o quanto o jornalismo mainstream de moda no Brasil era um dispositivo de bobagens. Nós refletíamos sobre o que de fato era uma ecobag.
ALVES, Luana Lopes; BARROS, Aline Capanema; DUARTE, Luciana dos Santos; NIGRI, Elbert; ROMEIRO FILHO, Eduardo. Sacolas Plásticas, Ecobags e Furoshikis: uma discussão sobre adequação de produtos e tecnologias. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2011.
Quanto à modelagem, o foco era na modelagem zero waste, e este era o primeiro momento que os alunos ouviam sobre esse tema. Eles tinham muita curiosidade. Infelizmente, os cursos de modelagem de vestuário no Brasil são predominantemente de modelagem plana. Um autor fundamental era Timo Rissanem. Eu abordava também o trabalho da estilista Madeleine Vionnet; o vestuário dos egípcios, gregos, e romanos; e as fraldas de pano, os slings e as furoshikis.
AULA 05 – Calçados e ergonomia
Começava abordando sobre ergonomia, o estudo do homem no trabalho, direitos humanos, até falar em deficientes físicos e inclusão social por meio da moda. Um livro auxiliar era:
Depois falávamos de tamanhos especiais, de gastos de tecido, eu apresentava um projeto que fiz na área como estudo de caso.
No segundo momento da aula, os calçados éticos, incluindo os ecoshoes, eram o tema central. Do Superga, Keds e All Star, surgidos em 1913, 1916 e 1917 respectivamente, e cujo estilo e certos aspectos produtivos em comum permaneceram os mesmo em mais de um século, abordávamos as proporções dos saltos e sua relação com conforto e uso de órteses.
PEREIRA, Maíra Paiva; DUARTE, Luciana dos Santos; PASCO, Mariana Rivas. As limitações das fôrmas de salto alto e o uso de órteses: uma abordagem da ergonomia. Actas de Diseño de Encuentro Latinoamericano de Diseño. Facultad de Diseño y Comunicación, Universidad de Palermo, 2007.
AULA 06 – Visita técnica à Green Co.
Agradeço ao Cassius Pereira, meu ex-chefe, por ter aberto a empresa para a visita dos alunos em duas ocasiões. Os alunos puderam conhecer sobre os vários tecidos ecológicos usados na empresa, processos produtivos, e gestão comercial.
AULA 07 – Uniformes e joias
Essa era uma aula filosófica e técnica, que ia do paradigma do novo de LIPOVETSKY aos conhecimentos de Análise do Ciclo de Vida, da Engenharia. O trabalho de dois designers se destacava:
- uniformes sustentáveis – Cristopher Ræburn
- joias – Kiwon Wang
Eu mostrava estudos de caso reais: durante um ano, pesquisei o fardamento da PMMG, e também fiz o briefing de um projeto para uma grande empresa de uniformes. Além disso, uma o Centro de Sustentabilidade de uma empresa de aviação com hangar em Confins me chamou algumas vezes, informalmente, para dar soluções para o descarte de poltronas, carpetes e uniformes.
DUARTE, Luciana dos Santos. Ética e estética das fardas e o trabalho da Polícia Militar de Minas Gerais. I Colóquio Internacional de Psicossociologia do Trabalho. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2012.
Quanto às joias, o foco eram novos processos produtivos, como prototipagem rápida e usinagem, além da relação entre sustentabilidade-exclusividade-luxo.
DUARTE, Luciana dos Santos; CAMPOS RUBIO, Juan Carlos. Modelos produzidos por injeção e a precisão na produção de joias. XV Colóquio de Usinagem. Núcleo de Mecânica Instituto Federal Sudeste de Minas, Juiz de Fora, 2011.
DUARTE, Luciana dos Santos; PASCO, Mariana Rivas; CAMPOS RUBIO, Juan Carlos; FARIA, Paulo Eustáquio; LEITE, Wanderson de Oliveira; OLIVEIRA, Eduardo Martins. A usinagem como tecnologia de manufatura aplicada ao desenvolvimento de joias e artigos decorativos. 14º Colóquio de Usinagem, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2010.
AULA 08 – Materiais, estampas, cores, formas
Essa aula se baseava inicialmente em algumas partes do livro O mundo codificado, do Vilém Flusser, e em Projeto de Produto, do Mike Baxter, além do Manual do Estilista, da Sue J. Jones.
Apresentava também os principais tecidos sustentáveis, fazendo uma reflexão crítica sobre eles, além de alguns processos de tingimento. Na época, eu fazia pesquisa na Cedro Têxtil, e a empresa havia cedido alguns materiais e autorizado a reprodução de vídeos internos para fins didáticos.
AULA 09 – Conceito, inspiração, estilo
O objetivo das aulas 08 e 09 era dar ao aluno o máximo de elementos para se pensar um look de moda sustentável, que era um dos trabalhos a serem desenvolvidos. Parte da aula 09 era iniciar a reflexão, bem como os croquis iniciais sobre este look completo (vestuário e dois acessórios). Na primeira parte da aula, eu explicava muito sobre conceito e estilo, com base no BAXTER.
AULA 10 – Estéticas e ética. Orientação dos artigos
Aula bem teórica para contrapor com a anterior, que era mais prática.
DUARTE, Luciana dos Santos. Contexto histórico da moda ética e estratégias da ética da sustentabilidade para o desenvolvimento de produtos de moda. Anais do 1º SIMPEX Simpósio de Pesquisa e Extensão em Design. Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2011.
Apresentava cinco estilos que continuam sendo senso comum na moda sustentável:
- Eco-ugly – são estes compostos, blendas, que são meros lixos tecnológicos e que são produzidos inclusive pela própria Osklen
- “Panda-verde-reciclado” – cópia dos ícones de movimentos ambientalistas, objetos horríveis de material reciclado e em larga escala, como descrito no livro “Desing de sistemas para sustentabilidade, do Vezzoli
- Monomaterial – como Crocs, Havainas e Melissa – aliás, leia o texto Melissa: crítica ao seu posicionamento de sustentabilidade
- Artesanal x Tecnológico
- Eco chic – cores desbotadas, modelagens desabando, silhueta cocoon
AULA 11 – Projeto de produto de moda ética
A aula mais importante de todas. Trazia a abordagem de projeto de produto pelo Baxter, com seis fases imprescindíveis do projeto. Na sequência, conhecimentos de desenvolvimento de coleção e idiossincrasias do mercado brasileiro. Explicava os dois cenários de sustentabilidade tratados no livro:
Abordava ainda o Design for X desde 1970, até se pensar em Design para Sustentabilidade(Design for Sustainability), Design para Meio Ambiente (Design for Environment). Logo, eu trazia um enfoque de design de produto e engenharia de produção para se pensar a moda ética e sustentável. Terminava falando novamente sobre Análise do Ciclo de Vida. Ao final, líamos um texto curto sobre o Fator Favela
AULA 12 – Design de sistemas para a sustentabilidade
Também uma aula fundamental do curso. Tratava sobre o empowerment (empoderamento), conceito que aparece na Ergonomia na década de 1980 e tão em moda. Usava o clássico livro Administração da Produção, do SLACK e outros autores para tratar do conceito de empoderamento. Criticava o que era projeto em uma empresa. A partir da relação projeto e pessoas em uma empresa, trazia o raciocínio para o design estratégico, o design para sustentabilidade, até o design de sistemas para sustentabilidade. Ao final, o aluno era convidado a utilizar o software gratuito SDO-LENS do Politécnico de Milão. Ele é bem qualitativo, mas permite que se visualize com ponderação alguns gráficos aranha, tratando de aspectos de sustentabilidade em um projeto. Isso ajuda a visualizar o quão sustentável é um projeto.
AULA 13 – Projeto para equidade e coesão social
Aula bem filosófica. Começava com a teoria de justiça do John Rawls.
DUARTE, Luciana dos Santos. O direito à desobediência civil em John Rawls. Anais do II Encontro do Grupo de Estudo e Trabalho em História e Linguagem: linguagem no mundo, mundo na linguagem. Universidade Federal de Minas Gerais, 2012, pp. 147 – 156.
Daí aproximava para o Design, e enfocava na parte referente do livro:
Dava ainda alguns exemplos de projetos de design com interface com o artesanato.
DUARTE, Luciana dos Santos; ENGLER, Rita Castro; MARTINS, Daniela. Projeto piloto: Comunidades Criativas das Geraes. 12º Seminário de Iniciação Científica e Extensão. Universidade do Estado de Minas Gerais, Frutal, 2010.
DUARTE, Luciana dos Santos; FREITAS, Ana Luiza Cerqueira. Minas Raízes: Artesanato, Cultura e Design Social – A Identidade de Lagoa Santa/MG. I Congresso Nacional de Artesanato da Rede de ITCP’s. Universidade Federal de São João Del-Rei, São João Del-Rei, 2010.
Finalmente, sugeria a leitura complementar do livro Pequeno Tratado das Grandes Virtudes – André Comte-Sponville.
AULA 14 – Designers de moda sustentável
Estudos de caso de designers e marcas nacionais e internacionais.
Dentre as nacionais, poucas sobreviveram: Bibe, Pistache & Banana, Éden, Raiz da Terra, Auá, Reserva Natural, Terra Mística, Algodoeiro, Imrãs Green, Goóc.
Dentre as internacionais, a maioria segue firme: Ada Zandition, Po-Zu, Stella McCartney, Patagonia, Life is Good, Aravore, e o extinto marketplace Ascension.
AULA 15 – Resíduos sólidos da moda
Na última aula, víamos coleções no estilo “trash chic”. Depois, eram compreendidos os diversos tipos de resíduos têxteis nas confecções, e apresentadas 10 técnicas de reaproveitá-los. Por fim, tratava sobre os compósitos com resíduos têxteis, que na época pesquisava no Departamento de Química da UFMG.
DUARTE, Luciana dos Santos; MOREIRA, Cristina de Andrade; PINTO, Plínio César de Carvalho; LIMA, Geraldo Magela. Desenvolvimento de compósitos sustentáveis à base de resíduos têxteis. Anais do VII Congresso Nacional de Engenharia Mecânica. Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2012.
DUARTE, Luciana dos Santos; CÂMARA, Tânia. Logística reversa e competitividade para os resíduos têxteis no polo da moda de Belo Horizonte. Anais do Colóquio Internacional de Design, Belo Horizonte, Minas Gerais, 2015, pp. 372 – 386.
Resultados teóricos
Felizmente, pude co-orientar uma aluna no seu trabalho de conclusão de curso e auxiliar outras alunas na elaboração de artigos científicos:
GUIMARÃES, Fabiana; DUARTE, Luciana dos Santos; BARBOSA, Juliana. Vestuário infantil da década de 1940: do conceito de infância aos conceitos de desenvolvimento de coleção por meio de referências imagéticas e modelagem de resíduo zero. Anais do Seminário Design de Imagem: a convergência visual. Universidade do Estado de Minas Gerais, Barbacena, 2014, pp. 50 – 51.
GUIMARÃES, Fabiana; DUARTE, Luciana dos Santos. Criação de vestuário infantil com modelagem de resíduo zero. Anais do IV Congresso Brasileiro de Engenharia de Produção. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Ponta Grossa, 2014.
MIRANDA, Tuany Marques; DUARTE, Luciana dos Santos. Consumo sustentável de moda: a relação da estética da coleção Amazon Guardians da Osklen com o paradigma do consumo de códigos e objetos de moda. Seminário Design de Imagem: dialética do design e suas interfaces. Universidade do Estado de Minas Gerais, Barbacena – MG, 2013, pp. 278 – 286.
Revisão do conteúdo da disciplina “Moda e Sustentabilidade”, após 10 anos
Eu tinha 24 anos de idade na época. Desde os 20 anos, pesquisava diariamente sobre moda ética na graduação em Design de Produto. E tinha a herança da vivência com meus pais, ambos da área de moda. Conto sobre a minha experiência de trabalho em:
- Engineering Consultancy
- Fashion Design Consultancy
- Scientific Knowledge
- Luciana Duarte
- Ethical Fashion Brazil: Desenvolvimento do website de 2007-2020
Hoje, com 34 anos, faria tudo de outro jeito, sugeriria outra literatura obviamente. O mundo mudou muito em uma década. Por exemplo, o movimento comunicacional do Fashion Revolution, iniciado em 2014, e amparado com o documentário The True Cost, trouxe uma conscientização sobre o impacto da indústria que foi absorvido no sistema Educacional de moda no Brasil, ainda que de forma transversal, isto é, como trabalhos dentro de disciplinas com outros enfoques. Isso foi uma vantagem para todo o setor, pois abriu o olhar para o ativismo de moda ética, para o questionamento do consumo e do sistema da moda, dentre outros aspectos. Certamente, o aspecto do ativismo deve ser abordado em um curso de moda e sustentabilidade.
- Semana Fashion Revolution na Capital da Moda
- Talk about Fashion at PUC Minas, International Relations
- Exposição “Quem fez o site ethicalfashionbrazil.com”
Outro tema que se popularizou muito é o do “design circular”, “moda circular”. Esses fundamentos podem ser encontrados nos conhecimentos de Produção Mais Limpa e de Análise do Ciclo de Vida, da Engenharia de Produção, além do Ecodesign ou Eco-Gerenciamento de Produtos, no campo do Design de Produto, temas da década de 1980. Ou seja, nada de novidade. O novo aqui é o conceito “circular”, não o assunto em si. E aí eu sugeria um livro fundamental, fácil do aluno absorver, que foi editado pela Gustavo Gili no Brasil, chamado “do berço ao berço”, que vai tratar do design “circular” e outros assuntos:
Cradle to Cradle: criar e reciclar ilimitadamente – Michael Braungart, William McDonough
Um terceiro tema necessário, são os biotecidos ou biomateriais, isto é, tecidos produzidos por fungos e bactérias são apresentados como a revolução do mercado de materiais. Eu acrescentaria esse foco na tecnologia têxtil, na aproximação de moda e química. Tenho várias críticas a estes materiais, e a maneira como eles são apresentados junto às narrativas de startups, e de crescimento econômico por meio de uma tecnologia ainda embrionária. Mas deixaria essas críticas todas para a sala de aula, ou futuramente aqui no site.
Acredito que a última aula para se repensar a moda e o luxo após a pandemia de 2020. O conceito de “phygital” é central. E aí recomendaria um livro que li recentemente e outro que estou lendo:
- Digital Luxury – Wided Batat
- Design and Nature: a Partnership – Kate Fletcher, Louise St. Pierre, Mathilda Tham
De uma forma geral, todo o nosso vocabulário conceitual tem que se atualizar. Veja alguns conceitos que devem ser transversais no curso:
Por outro lado, para mostrar que a história se repete, recomendaria todos os livros do Victor Papanek, dois deles li em voz alta para treinar o inglês. Por exemplo, o clássico:
Bem, este é um recorte de narrativas que acho relevantes hoje, em janeiro de 2021. Espero que possam auxiliar a reflexão crítica de estudantes, jovens pesquisadores e professores da área, na construção de suas próprias trajetórias e escolhas teóricas, para além da moda sustentável normativa e acrítica.
- Publications – DOWNLOAD de todos os nossos artigos científicos
- Phygital Marketplace for Sustainable Fashion SMEs
- Painel sobre Sustentabilidade no Brasil Digital Fashion Week
- Sustentabilidade na Moda no Brasil Digital Fashion Week
- Ethical Fashion Brazil roundabout at Impact Fest 2019